Rio Tinto

O rio Cávado, pouco a montante da sua foz, por meandros e baixios, deixava de ser navegável. Nos finais do século XVIII a rainha D. Maria I, aliás de acordo com outras decisões do mesmo tipo, aprovou obras de eliminação de um dos meandros do rio. Tais obras foram do agrado geral, uma vez que não só serviam à navegabilidade do rio como seriam também proveitosas para a agricultura do lugar. Um único senão: implicavam a demolição de algumas azenhas, o que, naturalmente, desagradou aos locais. O muro fez-se, transformando o meandro do Cávado naquilo a que se passou a chamar localmente “o rio velho”. O muro, conhecido por “marachão” ou por “marachão do abade” por causa de ter sido posse do abade da freguesia de Fonte Boa, ficou pronto no ano de 1802. Apesar dos matos e da vegetação, ainda pode tentar seguir sobre este muro, percebendo o que era antigamente o leito do rio, mas verdadeiramente agradável é aproveitar a maravilhosa praia fluvial do Marachão, onde o verde da vegetação e o azul do céu espelhado nas águas calmas do Cávado o convidam a momentos sem igual.

Nos tumultuosos tempos da Reconquista, quando exércitos muçulmanos e cristãos disputavam palmos de território, travou-se uma batalha nas margens do Cávado, mais precisamente sobre um ribeiro que lhe é afluente, onde agora existe o Marachão do Abade.

Na sorte da batalha levavam de vencida os cristãos e, quando os mouros já retiravam, foram perseguidos e trucidados. Foi tal a chacina que o ribeiro se tingiu de sangue e daí o nome da freguesia: Rio Tinto. Esta é a lenda, mas a explicação para o nome do lugar e do ribeiro bem pode ser buscada noutra razão: a actividade de mineração de ouro nestes lugares usava as águas dos ribeiros para a lavagem do minério. E esse aluvião, levado pelas águas, deveria tingi-las.