Esposende
A elevação de Esposende a Vila remonta a 19 de Agosto de 1572, durante o reinado de D. Sebastião (1554-1578). Em 16 de Dezembro de 1886 adquiriu a categoria de Julgado Municipal e, em 27 de Outubro de 1898, a de Comarca Municipal. Foi após o período áureo da arte de marear, decorrido entre as centúrias de XIV e de XV, que Esposende conheceu o auge – entre os séculos XVI e XVIII – através do comércio marítimo, da construção e reparação naval.
Este roteiro da cidade tem início no Centro de Informação Turística de Esposende, espaço composto por três áreas, nomeadamente zona de atendimento, auditório e espaço multiusos. Aqui poderá visionar um filme promocional acerca do concelho, aceder à mais diversa informação turística através do contacto personalizado com os colaboradores, recolher alguns suportes em papel ou simplesmente explorar a mesa interativa. Para além disso, poderá apreciar exposições que se realizam temporariamente ou adquirir alguns produtos locais e artesanato. A montra interativa que se encontra no exterior do edifício está disponível 24 horas por dia.
Através da Rua Rodrigues de Faria, um pouco a sul do edifício do Centro de Informação Turística, alcança o Largo Dr. Fonseca Lima. Aqui poderá efetuar uma visita ao Museu Municipal de Esposende, que está instalado num edifício dos princípios do século XX (1911), à época o Teatro-Club de Esposende, que saiu do traço do arquiteto Miguel Ventura Terra. Na década de 1990 a Câmara Municipal decidiu a sua adaptação a Museu Municipal, que inaugurou, em 1993, sob traço de Bernardo Ferrão, arquiteto da denominada Escola do Porto. O Museu de Esposende reflete a terra onde foi criado. No rés-do-chão encontra-se a Sala dos Azulejos, destinada a exposições temporárias que deve o seu nome ao magnífico silhar azulejar coevo de 1911, desenho do próprio Ventura Terra. Nas duas áreas de exposição, no 1.º e 2.º andar, o Museu dá a conhecer a cultura e o património locais.
No Largo Comandante Carlos de Oliveira Martins, fronteiro ao Dr. Fonseca Lima, localiza-se a pequena Capela do Senhor dos Aflitos. Os pescadores de Esposende aqui erigiram uma cruz de pedra, onde pintaram uma figura de Jesus Cristo, chamando-lhe Senhor dos Aflitos, numa evocação clara dos medos que as lides do mar e da pesca lhes traziam. Nessa mesma cruz, mais tarde, foi construído um pequeno nicho que, posteriormente, em 1880, foi transferido para a atual localização. Em 1969 fizeram-se obras de remodelação, apenas se conservando a fachada da anterior edificação e o primitivo cruzeiro pintado. O templo tem uma planta retangular, com a fachada voltada a poente. A frontaria ostenta um frontão triangular, encimado por uma cruz trilobada assente num plinto. Os pináculos laterais são de base retangular.
Após estas visitas, deslocando-nos através da Rua Barão de Esposende e do Largo Marquês do Pombal, para sul, chegamos a um outro largo, o do Pelourinho. O Pelourinho de Esposende terá tido lugar defronte da Câmara Municipal, até 1910, quando o estado de degradação em que se encontrava obrigou a que fosse desmontado e só mais tarde, entre 1925 e 1929, reconstruído no local onde o pode agora observar. Trata-se de um interessante exemplar deste símbolo do poder concelhio. Sobre a tradicional base, neste caso de três degraus, assenta o plinto com faces tipo almofada. O fuste – a coluna – é oitavado e encimado por um capitel com motivos vegetais e uma cruz de Cristo. No topo pode observar uma esfera armilar, símbolo das navegações portuguesas de quinhentos. Repare que no meio do fuste ainda está uma argola de ferro. Os pelourinhos destinavam-se, na sua origem, a castigar publicamente os que atentavam contra as leis do concelho. Tais castigos podiam incluir a exibição pública ou a punição física. O condenado era amarrado ao pelourinho para aí cumprir a sua pena, e para isso servia a argola. Mesmo quando as punições públicas deixaram de se realizar, o Pelourinho manteve o simbolismo do poder do concelho, da autonomia dos homens livres de servidões ou laços senhoriais.
Através da Rua Narciso Ferreira, alcança-se o Largo Sacadura Cabral, local onde se implanta o edifício do antigo Grémio da Lavoura de Esposende, convertido em 2011 em Fórum Municipal Rodrigues Sampaio, sede da Assembleia Municipal de Esposende e que acolhe a realização de diversos tipos de eventos culturais, como espetáculos ou workshops. Assenta numa casa datada do séc. XVIII, que apresentava na sua fachada elementos compositivos de remate em cantaria bastante cuidados – cunhais, cornija e envasamento, casa de cariz senhorial atribuída a uma família estrangeira de comerciantes marítimos.
Da Rua Dr. José Manuel Oliveira chega-se à Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura. Data da década de 1980 a instalação em Esposende de uma biblioteca fixa da Fundação Calouste Gulbenkian. No final dessa década, o Município decidiu avançar com a construção de uma biblioteca municipal, que se inaugurou em 1992. O complexo que atualmente é ocupado pela Biblioteca Municipal é o resultado de uma intervenção do arquiteto Bernardo Ferrão em vários edifícios, do século XVI e do século XVIII, a que anexou edificado de raiz. O arco existente num deles dá o nome ao conjunto: Casa do Arco. A Biblioteca está instalada uma área de mais de 1.100 m2, com várias áreas dedicadas à leitura, mas também a audiovisuais, a exposições temporárias e a outras atividades culturais, como cinema, teatro, conferências e recitais de poesia.
Para além dos fundos gerais, a Biblioteca Municipal conserva três fundos especiais, com relevante valor: o Fundo do Poeta António Correia de Oliveira, o Fundo Coleção Silva Vieira e o Fundo Manuel de Boaventura. Em homenagem a este último, recebeu aliás a biblioteca o nome, sendo Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura.
Quem ascende pela Rua da Senhora da Saúde, desde a Praça do Município, e ultrapassa a estrada nacional Porto-Viana do Castelo (EN 13), repara num souto arborizado onde se implanta a Capela da Senhora da Saúde. A alameda de árvores que lhe dá acesso confere ao local um bucolismo palpável. A atual capela de Nossa Senhora da Saúde não foi sempre conhecida por este nome. Tal denominação é, até, muito recente. Na sua origem foi dedicada a S. Sebastião, sob cujo título fora designada durante vários séculos. A capela original dataria de meados do século XVI, mas a atual é de finais do século XVIII quando passou a chamar-se por capela de S. Sebastião e Soledade. A frontaria é muito singela, simétrica e o branco da fachada contrasta com o cinza do granito das molduras e ângulos. Este pequeno santuário mariano consta de capela-mor, nave, coro e sacristia e é envolvido por um amplo adro vedado por um muro granítico e ponteado de frondosos plátanos a marginar a ruela de serventia, árvores a que o povo chama de souto. Na parede sul pode-se observar um painel de azulejo azul, com cercadura policromada, cujo desenho é da autoria de Manuel Gonçalves Viana, representando Nossa Senhora da Saúde, com a seguinte inscrição: «N. S.ra da Saúde, orai por nós – Salus Infirmorum – Ave Maria – N. Senhora da Saúde de Esposende – 300 dias de indulgências a quem rezar um Padre-Nosso, quatro Ave-Marias e uma Glória Patri, diante desta milagrosa imagem». Desde 1902, um ano após a colocação da imagem de Nossa Senhora da Saúde, a festa tomou este nome, assumiu as proporções e características de grande romaria do Minho e veio a chamar-se “Festa da Vila”. Atualmente é designada como Festa da Cidade e realiza-se, todos os anos, no dia 15 de Agosto.
Voltando ao centro da cidade, através da Rua da Senhora da Saúde, eis a Praça do Município. A Igreja da Misericórdia faz parte de um complexo de edifícios, que inclui também a Casa da Misericórdia, cuja confraria foi instituída em 1595. O templo atual data de 1893, conforme uma inscrição existente no seu interior. No interior da Igreja da Misericórdia, está construída a Capela do Senhor dos Mareantes. Trata-se de uma capela de características excecionais, classificada como Imóvel de Interesse Público. Vale a pena deter o olhar na magnífica talha dourada, de uma iconografia riquíssima. Repare também nos nichos que ladeiam o altar-mor, com passagens da vida de Cristo (Cristo e Zaqueu e Cristo e a Samaritana). Depois, instale-se o mais confortavelmente que puder e não deixe de admirar o teto, em caixotões de talha polícroma, onde estão representados os doze profetas Messiânicos. Estão dispostos em três séries, em grupos de quatro. Tente identificá-los: Oseias, Joel, Amos e Miqueias; depois, Isaías, Nahum, Jeremias e Ezequiel; finalmente, Daniel, Ageu, Zacarias e Malaquias. Este teto é, de facto, de uma riqueza e de uma beleza extraordinárias, e é fácil compreender porque é considerada esta capela a jóia da arquitetura religiosa de Esposende.
Numa das extremidades desta praça, poderemos apreciar o busto do poeta António Correia de Oliveira, natural de São Pedro do Sul, onde nasceu a 30 de Julho de 1879. Em 1912, por casamento, veio viver para a Quinta de Belinho (Antas, Esposende). Com influências de Antero de Quental e de Guerra Junqueiro, a sua poesia exibe um saudosismo nacionalista, de raiz popular, cultivando temas patrióticos. Morre em 20 de Fevereiro de 1960.
O edifício original onde atualmente se instala a Câmara Municipal remonta ao séc. XVI, caracterizado pelos arcos redondos de alpendrada aberta na frontaria. Instalado no cruzamento das principais vias de circulação, estruturou a partir de si próprio os novos quarteirões e o arruamento, correspondendo à fase inicial da expansão urbana da vila em 1572. De 1732 a 1758 e, posteriormente, entre 1870 e 1893 o edifício é ampliado avançando para a parte central e norte do quarteirão e é nobilitada a fachada principal, virada a sul, encimada por uma platibanda rematada com vasos nos ângulos. Na peça central, sobre a janela-varanda, mantém as armas em talhe barroco, mas emolduradas por uma pequena torre sineira, dotada de relógio, dando simetria ao conjunto. Ao longo do séc. XX sofreu várias obras de remodelação e ampliação, vindo a ocupar todo o quarteirão.
Na Rua 1.º de Dezembro, também conhecida como “Rua Direita”, poderemos dar largas ao nosso espírito consumista e adquirir uma recordação numa das lojas da artéria comercial mais movimentada da cidade. Um verdadeiro centro comercial ao ar livre.
Em plena Rua 1.º de Dezembro, no centro da cidade de Esposende, situa-se o Palacete de Valentim Ribeiro da Fonseca. Edifício estilo Arte Nova, mandado construir no início do século XX, por Valentim Ribeiro da Fonseca, com o risco do Arquiteto Miguel Ventura Terra, destinado a habitação da família. Este ilustre esposendense nasceu na freguesia de Palmeira de Faro, deste concelho, no ano de 1855. Cedo emigrou para o Brasil, onde conseguiu uma grande fortuna. Nunca esqueceu a sua terra natal e aqui teve um papel importante, tendo o seu nome ligado à construção do Teatro-Club e ao Hospital. Estes dois edifícios, juntamente com a sua casa de habitação, são hoje património de inegável valor pelo facto de terem, todos eles, o traço do grande arquiteto português Miguel Ventura Terra.
Após a “Rua Direita”, já no Largo Rodrigues Sampaio, é a morada da atual Igreja Matriz. Remonta a 1566 a primitiva ermida, dedicada a Nossa Senhora da Graça, que terá dado lugar em 1758 à nova Igreja, remodelada para matriz da Vila de Esposende, dotada de altar-mor e nave principal abobadada, com sacristia, altares laterais, dois púlpitos e duas torres sineiras tomando a invocação a Santa Maria dos Anjos, padroeira de Esposende. Entre 1885 e 1896 foi ampliada a igreja no seu interior e melhorada a fachada, sendo erguida ao gosto neoclássico de três corpos. Desta obra resulta a instalação do órgão de tubos. Em 1968 a torre sineira é também dotada de um relógio. No seu interior destaque para os vitrais, os painéis azulejares, o coro e a pia batismal.
Neste Largo Rodrigues Sampaio, detemo-nos para apreciar o busto a António Rodrigues Sampaio. Político liberal e jornalista nasceu em 25 de julho de 1806, na freguesia de S. Bartolomeu do Mar., ocupou cargos públicos de grande relevo, tendo mesmo desempenhado as funções de Presidente do Conselho de Ministros de Portugal (1881). Jornalista e político português tendo, entre outras funções, exercido o cargo de deputado, par do Reino, ministro e presidente do Conselho (chefe de governo). Rodrigues Sampaio foi um dos maiores vultos do liberalismo português de oitocentos, jornalista ímpar e parlamentar de exceção. Personalidade controversa, polémica, mesmo revolucionária, mas sempre coerente e fiel aos seus princípios e desígnios, foi um agitador de renome nacional, o que lhe valeria a alcunha de o ‘Sampaio da Revolução’, já que se notabilizou como redator principal do jornal “A Revolução de Setembro”. A sua bandeira foi sempre a monarquia constitucional. Faleceu em Sintra, no dia 13 de setembro 1882.
Ainda no mesmo largo, no topo poente, o Monumento ao Homem do Mar. Esposende sempre viveu voltada para o Mar e as suas gentes dele tiraram sustento, perigos e desgraças. Nas comemorações dos 500 anos das descobertas marítimas, a Câmara Municipal decidiu erigir um monumento ao “Homem do Mar”. A estátua, da autoria dos Irmãos Bom Pastor, foi inaugurada em Dezembro de 1997. É composta por cinco figuras – quatro de homens e uma de mulher – e uma quilha de embarcação. Simboliza o esforço das populações que do mar tiraram sustento e também daquelas que construíram as embarcações necessárias à faina marítima.
Daqui, um pequeno “pulo” até ao Museu Marítimo de Esposende, a funcionar no edifício do I. S. N. Inaugurada em 1906, a moderna Estação de Socorros a Náufragos de Esposende veio substituir a velha “casa do salva vidas”, um barracão em madeira que desde 1876 abrigava o barco escaler que se usava para acudir aos naufrágios da comunidade piscatória e comercial. Até à década de 70 do séc. XX, a embarcação salva vidas desta Estação e as suas heroicas tripulações, fizeram a diferença entre a vida e a morte no mar de Esposende. O edifício foi totalmente recuperado pela Associação Fórum Esposendense e nele foi instalado o Museu Marítimo, que inaugurou em 2012. Aqui se reúne um vasto espólio histórico, cultural e sentimental evocando a memória da comunidade marítima concelhia. Pode ainda desfrutar de uma vista panorâmica privilegiada sobre a cidade, estuário e foz do rio Cávado através da subida ao torreão.
As Piscinas Municipais Foz do Cávado, ali ao lado, encontram-se integradas num complexo de lazer entre a “avenida marginal” e a margem direita do rio Cávado. No interior poderá desfrutar de uma piscina de água doce com ondas e hidromassagem; por um outro tanque exterior de água salgada; por um clube de saúde; para além de uma área comercial com área de restauração.
Na Praça D. Sebastião, frente às Piscinas Municipais Foz do Cávado, a estátua de D. Sebastião. A 19 de Agosto de 1572, o rei D. Sebastião concedeu Carta Régia a Esposende, dando-lhe o estatuto de Vila e tornando-a autónoma do termo de Barcelos. Na comemoração do IV centenário desse momento tão significativo para Esposende, a Câmara Municipal decidiu erigir um monumento em memória do monarca, na praça de seu nome. A estátua foi oferta da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais do Ministério das Obras Públicas. A inauguração desta peça de Lagoa Henriques, executada na Fundição Bronzes Artísticos, ocorreu em 1973.
Pela Av. Eng. Eduardo Arantes e Oliveira, após o Mercado Municipal para norte, através da Rua da Frita, encontra-se a Capela de São João Baptista, em rua com a mesma denominação. A capela remonta ao final do século XVI, sendo construída em cima de uma plataforma de pedra, com formato de pequeno torreão na praia do rio Cávado, a norte da foz do ribeiro do Rego da Igreja. Este torreão serviria para manter a capela em segurança, sobretudo durante as marés de cheia no Inverno. Foi alvo de várias reconstruções, uma delas em 1699, cuja data permanece gravada na base da cruz que encima o pórtico. A atual capela resulta das obras de 1740.
Nas imediações da capela consta o cruzeiro, datado de 1660, que na origem ficava em frente da porta da capela, num largo em meia-lua. Em finais do séc. XIX é mudado para a localização atual.
No final da Rua de São João, a norte, através da Avenida Rocha Gonçalves, quem desejar pode observar o Hospital Valentim Ribeiro da Fonseca. Projeto de Miguel Ventura Terra, encomendado pelo benfeitor e torna viagem Valentim Ribeiro. Inaugurado em 1916, substituiu os serviços do antigo Hospital de Sam Manoel, também propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Esposende. Implantado numa vasta área ajardinada, no topo norte da cidade, apesar de inúmeras obras de remodelação e ampliação que modificaram a parte traseira, o edifício manteve a traça original. Detém uma fachada imponente, de feição neoclássica, virada a poente, com os três corpos simétricos, sendo o central de maior dimensão, dotado de escadaria de acesso e coroado com a esfera armilar republicana.
Prossigamos o percurso, através da Av. Eng. Eduardo Arantes e Oliveira, pela margem do estuário do Cávado, até à Praça das Lampreias, acompanhado por uma esplêndida vista sobre as suas águas deste rio.
O Forte de S. João Baptista ergue-se junto à foz do Cávado, no limiar do rio e do mar. Pequeno baluarte de planta em estrela, com uma bateria de artilharia. É um edifício de origens seiscentistas, mandado erigir por D. Pedro II, mas que viu a sua construção prolongar-se pelo século seguinte. A segurança da barra do Cávado foi assegurada por este forte até às Invasões Francesas (Séc. XIX).
Atualmente, nele está instalado o Farol de Esposende. É constituído por uma torre cilíndrica vermelha em ferro com uma altura de 15 metros, assente numa base de cimento e rematada no topo por uma lanterna alcance de 20 milhas náuticas.
A foz do Cávado, a reunião do rio com o mar é um espetáculo que merece algum tempo de observação e de enlevo. O rio vai-se espraiando no estuário, numa curva lenta em direção ao Atlântico. Está protegido a poente pela restinga de Ofir e a nascente pela cidade de Esposende. Aquele plano de água dirige-se ininterruptamente para o seu final, mergulhando nas águas do Atlântico. No final do estuário do Cávado há bons locais para admirar esta paisagem de uma beleza inconfundível: um bar, com a sua esplanada, ou um passeio pela marginal deambulando a pé ou passeando simplesmente de bicicleta, nos fins-de-tarde cálidos de Verão, ou num dia mais agreste de Outono.
A morte da água Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a Esposende ver desaguar o Cávado. Existe lá um bar apropriado para isso. Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege. Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore genealógica, visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável. É o anonimato. E a todo o momento há água que se lança nessa aventura. Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos. Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré-cheia. E é em Esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou, que torneou obstáculos. Impossível voltar atrás. Agora é a morte. Ou a vida. Ruy Belo, in Obra poética, I, 1984, p.182